colunistas do impresso

PLURAL: os textos de Rosana Zucolo e Rony Cavalli

Crônicas de uma Barbearia*
Rosana Cabral Zucolo
Jornalista, professora nos cursos de Jornalismo e PP da UFN

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Todo início de mês eu vou cortar o cabelo. Não gosto, mas são os ossos do meu ofício. Sempre vou à barbearia de um conhecido, que fica no fim de uma galeria bem escura, aqui no bairro mesmo. Vou lá porque ele me faz um preço amigo, e de graça escuto diferentes conversas. Quando eu me sento naquela cadeira, saio um pouco da bolha que vivo. Coloco-me como ouvinte, sempre passivo.

Essa semana, mesmo um pouco contrariado e bastante apressado, voltei à tal barbearia. À minha esquerda, sentado, havia um médico, rapaz jovem na busca de esconder sua calvície, que recém aflorava na cabeça. À direita, um homem de meia idade, advogado de aparente experiência. Entre o barulho das máquinas e o corte das tesouras surgiam os mais variados assuntos: ciência, economia, política, e até um papo motivacional. Cada frase me valia por uma aula. Uma aula difícil, mas necessária.

Os barbeiros são parecidos, dois deles são irmãos. Além do sangue, compartilham mais coisas. Em certo momento, um deles desdenhou da importância da vacinação. Segundo ele, ela fazia parte de algum plano muito maior, coisas de dominação e tal. O médico, franzino, se pronunciou, mas não enfrentou diretamente as colocações. O advogado, através do espelho, me voltou o olhar, mas ambos permanecemos em silêncio. Não demorou muito para o assunto tomar diferentes - e grandes - proporções. O tom subia, e a agressividade daquele monólogo aumentava. Entre uma pauta e outra, parecia que o assunto se tornava cada vez mais pessoal, carregado de sentimentos, de amor e de ódio. A barbearia pegou fogo, mas não literalmente.

Senti-me inerte, incomodado também. Discursos polarizados se chocavam e não havia ninguém capaz de abafar aqueles ânimos. Naquela sala espelhada se refletia a nossa sociedade, tomada pelo rancor, pelo medo, pela desconfiança, pelo desconhecimento, mas também pela omissão. Omissão - ou incapacidade - dos que, em teoria, deveriam ser capazes. 

Enquanto as palavras se chocavam, eu olhava para o relógio acima de meus olhos, já atrasado para trabalhar. Naquele momento, os cabelos que caiam entre a minha camisa e meu pescoço eram o menor dos meus incômodos, algo maior me perturbava: A minha ignorância. Ignorância de quando pergunto, isolado em minha bolha, qual o caminho que trilhamos para chegar até aqui. 

Com certeza em algum ponto nós falhamos. Estudos, convicções, valores, conhecimento, comunicadores, médicos, políticos, estudantes, cientistas sociais. Para quem nós falamos? Quando foi que nos descolamos da sociedade e de todas as demandas por ela estabelecidas. Encolhemos-nos em nossas bolhas e insistimos em manter os olhos fechados. Ora, mas que superioridade é essa? Qual o motivo de me sentir incomodado apenas por ver a realidade do lugar onde vivo? Por que da minha omissão, da minha angústia?

Essas respostas eu não achei, mas cada vez que sento naquela cadeira vejo a necessidade de estar presente naquele lugar, e aprender. Redes sociais, canais fechados, textos acadêmicos, termos complicados, por quem fizemos isso tudo? Falar apenas aos nossos pares e dizer, descontentes, que "não sabemos como chegamos nesse ponto" é fácil. Quero ver você ir cortar o cabelo também. 

* Artigo escrito por Petrius Peripolli Dias, acadêmico de jornalismo da UFN e auxiliar administrativo na Base Aérea de Santa Maria.

Eleições da UFSM
Rony Pillar Cavalli
Advogado e professor universitário

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Tenho visto, especialmente nas redes sociais, que o surgimento de uma nova chapa eleitoral composta pelo Prof. Rogério Koff "seria antidemocrático, que o novo concorrente seria uma espécie de "interventor" do governo federal e por aí vai.

A grande verdade é que este pessoal estava viciado em gritar sozinho, sem qualquer concorrência, tomar conta da UFSM, visto que é forma de ser dos alinhados ao espectro da direita não se envolver muito. Como este lado normalmente é formado por indivíduos ativos em suas áreas de atuação, acabam não se envolvendo em cargos ou outras funções na universidade. Mesmo professores com vínculo com a Instituição, como além do magistério exercem sua profissão técnica fora da Universidade, acabam lecionando sua disciplina e não participando da política institucional, de forma muito diferente dos alinhados ao espectro da esquerda que se envolvem e ocupam os espaços e, por esta razão, acabam tomando conta das instituições que participam.

Eu venho dizendo que este embate político que vivemos descortinou uma verdade que era mascarada antes pelos gritos da esquerda. Esta não é a maioria nem mesmo na UFSM e sim grita mais, esperneia mais e toma conta do espaço, ao passo que professores e funcionários mais alinhados do centro para a direita costumavam silenciar e se retirar, dando a impressão que o outro lado é a maioria.

Tenho certeza que apesar de alinhado aos ideais da direita, o Prof. Rogério Koff não quer política partidária dentro da UFSM e é justamente por isto que ele tem ganho adeptos em sua campanha na sociedade santa-mariense. Assim como criticamos a ação improba do atual Reitor de ter trazido para dentro do campus a "caravana do Lula", certamente criticaríamos um eventual evento bolsonarista dentro dos domínios da Instituição e muito menos apoiado pela Reitoria. Defendemos o projeto "escola sem partido" justamente por isto. Não é para tirar a esquerda e colocar a direita e sim para barrar qualquer partido político, de qualquer viés, de usar a universidade como plataforma de campanha e de formadora de militantes de qualquer dos lados.

A Universidade é sim palco de debate de ideias, mas quanto à política deve ater-se à política institucional, política estudantil e, especialmente temos que chegar ao grau de maturidade ética que professores ingressem em sala de aula para ministrar sua disciplina e não para fazer campanha política do partido que se alinham.

Está na hora da esquerda deixar de se comportar como "bebê chorão", chamando de democracia apenas quando o discurso se alinha ao seu. Democracia é justamente respeitar o ordenamento jurídico construído de forma democrática, pelo Parlamento a partir do mandato outorgado pelos cidadãos eleitores e justamente quanto às eleições da UFSM, acaso o Prof. Rogério esteja na lista tríplice, mesmo que em terceiro lugar, está no ordenamento jurídico do nosso País, nas normas que regulam as eleições nas instituições federais, que é prerrogativa do Presidente da República escolher um entre os três mais votados e escolher aquele que mais se alinha aos seus ideais de governo é justamente a intensão da previsão de uma lista tríplice.

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